{"id":19710,"date":"2022-07-12T22:15:58","date_gmt":"2022-07-12T22:15:58","guid":{"rendered":"https:\/\/www.mmt.pt\/?p=19710"},"modified":"2022-08-10T03:57:26","modified_gmt":"2022-08-10T03:57:26","slug":"o-principio-da-par-conditio-creditorum-e-a-classificacao-de-creditos-no-processo-de-insolvencia","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.mmt.pt\/artigo\/o-principio-da-par-conditio-creditorum-e-a-classificacao-de-creditos-no-processo-de-insolvencia\/","title":{"rendered":"Princ\u00edpio da Par Conditio Creditorum e Classifica\u00e7\u00e3o de Cr\u00e9ditos"},"content":{"rendered":"\n

O\u00a0princ\u00edpio<\/em>\u00a0par conditio creditorum<\/em>\u00a0ou\u00a0princ\u00edpio da igualdade entre credores<\/em>\u00a0\u00e9 um princ\u00edpio que determina que os credores devem ser tratados de forma igual, sem preju\u00edzo das diferencia\u00e7\u00f5es justificadas por raz\u00f5es objetivas, ou seja, os credores est\u00e3o em p\u00e9 de igualdade perante o devedor [vide<\/em>\u00a0Art.\u00ba 604, n.\u00ba 1 do C\u00f3digo Civil (CC)].<\/p>\n\n\n\n

Destarte, n\u00e3o existindo causas leg\u00edtimas de prefer\u00eancia, os credores t\u00eam o direito de ser pagos proporcionalmente pelo pre\u00e7o dos bens do devedor, quando ele n\u00e3o chegue para integral satisfa\u00e7\u00e3o dos d\u00e9bitos.<\/p>\n\n\n\n

O facto de ser frequente que o(s) credor(es) goze(m) do direito a serem pagos preferencialmente pelos bens do devedor, ou por algum desses bens, leva a que seja necess\u00e1rio proceder \u00e0 ordena\u00e7\u00e3o dos cr\u00e9ditos, i.e<\/em>., \u00e0 sua gradua\u00e7\u00e3o, definindo prioridades entre os cr\u00e9ditos quanto \u00e0 sua satisfa\u00e7\u00e3o pelo produto dos bens do devedor.<\/p>\n\n\n\n

Conforme disp\u00f5e o Art.\u00ba 47, n.\u00ba 4 do CIRE, os cr\u00e9ditos est\u00e3o hierarquizados segundo quatro classes:<\/p>\n\n\n\n

a) Cr\u00e9ditos garantidos<\/strong>: os que beneficiam de garantias reais;<\/p>\n\n\n\n

b) Cr\u00e9ditos privilegiados<\/strong>: beneficiam de privil\u00e9gios gerais;<\/p>\n\n\n\n

c) Cr\u00e9ditos comuns<\/strong>: todos os que n\u00e3o est\u00e3o inclu\u00eddos nas restantes classes;<\/p>\n\n\n\n

d) Cr\u00e9ditos subordinados<\/strong>: os que s\u00f3 podem ser satisfeitos depois dos restantes cr\u00e9ditos da insolv\u00eancia, incluindo os comuns.<\/p>\n\n\n\n

Estes cr\u00e9ditos est\u00e3o taxativamente enumerados no artigo 48\u00ba do CIRE.<\/p>\n\n\n\n

Nestes termos, o princ\u00edpio par conditio creditorum<\/em> apenas \u00e9 afastado, quando existam causas leg\u00edtimas de prefer\u00eancia de pagamento que s\u00e3o, nomeadamente, para al\u00e9m de outras especificamente previstas na lei, a consigna\u00e7\u00e3o de rendimentos, o penhor, a hipoteca, os privil\u00e9gios credit\u00f3rios e o direito de reten\u00e7\u00e3o (vide<\/em> Art.\u00ba 604, n.\u00ba 2 do CC). <\/p>\n\n\n\n

MENEZES LEIT\u00c3O afirma que \u201co processo de insolv\u00eancia n\u00e3o se destina \u00e0 satisfa\u00e7\u00e3o do direito individual de cada credor, mas antes visa o tratamento igualit\u00e1rio de todos os credores do devedor, dado que a crise econ\u00f3mica do devedor torna previs\u00edvel que nem todos os credores ver\u00e3o satisfeito o seu direito<\/em>\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Tal afirma\u00e7\u00e3o mostra que, na realidade, esta igualdade n\u00e3o \u00e9 absoluta, pois os credores n\u00e3o ser\u00e3o todos pagos de igual forma e os bens n\u00e3o ser\u00e3o divididos proporcionalmente por todos. Assim, os credores deixam de estar em p\u00e9 de igualdade e passam a ficar inseridos numa classe de cr\u00e9ditos, consoante a sua natureza. <\/p>\n\n\n\n

Este desvio ao princ\u00edpio da igualdade dos credores encontra-se plasmado, desde logo, na parte final do Art.\u00ba 194, n.\u00ba 1 do CIRE, ao afirmar que o plano de insolv\u00eancia dever\u00e1 obedecer a este princ\u00edpio, com a exce\u00e7\u00e3o \u201cdas diferencia\u00e7\u00f5es justificadas por raz\u00f5es objetivas\u201d<\/em>, designadamente aquelas previstas nas diferentes classes de cr\u00e9ditos, satisfeitos por ordem de preval\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

Neste sentido LU\u00cdS M. MARTINS defende que deve ser tratado de \u201cforma igual o que \u00e9 igual e distinguir o que \u00e9 distinto<\/em>\u201d. <\/p>\n\n\n\n

* Processo de Insolv\u00eancia anotado e comentado. 3\u00aa edi\u00e7\u00e3o. Coimbra: Almedina, 2014, p. 427<\/p>\n\n\n\n

A leitura deste conte\u00fado n\u00e3o dispensa a consulta da legisla\u00e7\u00e3o em vigor<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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